Palavras do Rabino Pablo Berman

Shabat Pekudei, Colônias

No site poloturismojudaico.com.br, na seção "grande-encontro", encontramos um propósito encantador: reunir, em um encontro social, cultural e de turismo de memória e afetivo, descendentes das Colônias Judaicas gaúchas de Philippson e Quatro Irmãos, suas famílias e simpatizantes da comunidade judaica e da sociedade aberta. O objetivo é fortalecer laços com a memória, com a história, e compartilhar uma jornada de vida com familiares e amigos, tudo às vésperas do Dia Nacional da Imigração Judaica em 18 de março de 2024.
Essa frase poderosa: "Fortalecer laços com a memória, com a história, e compartilhar com familiares e amigos uma jornada de vida", nos reúne todos aqui, nesta noite única e maravilhosa de Kabalat Shabat, na cidade de Erechim, e define em apenas 12 palavras o que representa a tradição judaica. Nós judeus, sabemos realmente fortalecer laços com a memória e com a história, compartilhando nossa jornada de vida através delas.
Que maravilhoso é reunir-se para fortalecer laços com a memória e com a história. 
E Moshe, no deserto, também precisa fazer o mesmo. Fortalecer laços com a memória e com o futuro desse povo que saiu do Egito. Assim, Moshe constrói, pela ordem divina, um Mishkan, um santuário móvel perfeito, como um Lego em que cada peça encaixa de modo exato e preciso. Uma casa para Deus. Um encontro na Terra entre Deus e o ser humano.
O texto nos relata como finalmente esse santuário fica terminado. E junto com o santuário, as roupas que o sacerdote, Aharon Hacohen, deveria vestir. Roupas especiais, imponentes. Particularmente, ele deveria vestir dois elementos especiais: Efod e Choshen.
E o texto da Torá nos relata...
Faça um Efod, (como se fosse um colete) diz Deus a Moshe, de linho fino trançado e de fios de ouro e de fios de tecido azul, roxo e vermelho, uma obra de arte. Grave em duas pedras de ônix os nomes dos filhos de Israel, por ordem de nascimento: seis nomes numa pedra e seis na outra, pedras memoriais para os filhos de Israel. Abnei zikaron libnei Israel.
Faça também um peitoral: Choshen. De linho fino trançado e de fios de ouro. Será quadrado. Em seguida, fixe nele quatro fileiras de pedras preciosas. Serão doze pedras, uma para cada um dos nomes dos filhos de Israel, cada uma gravada como um selo, com o nome de uma das doze tribos. Ish al shmo.
No Efod e no Choshen, ambos tinham a instrução de gravar os nomes das tribos do povo de Israel. Contudo, uma diferença crucial se destaca. No Efod, os nomes estão gravados coletivamente, simbolizando a essência do povo de Israel como um todo, como uma comunidade unida. Já no Choshen, o peitoral, cada nome é gravado individualmente, acima do coração. O sumo sacerdote carrega, assim, o povo como uma entidade única e primordial, enquanto, sobre o peito, há doze pedras, cada uma com um nome específico, particular e exclusivo.
O ponto crucial a ser lembrado nesta noite de Shabat que nos reúne nesta cidade, conectando-nos através da história e da memória, é que somos os eternos responsáveis pelas duas vestimentas do Cohen Gadol. Uma representa o povo de Israel como grupo, como comunidade - abnei zikaron, as pedras da memória, conforme a Torá enfatiza. E, ao mesmo tempo, o enfoque no individual é essencial. Jamais devemos esquecer de nossas origens, como chegamos aqui e quem somos individualmente como judeus. Cada um de nós tem o dever de lembrar e transmitir às próximas gerações as histórias e valores que nos conformaram como povo.
Que possamos neste Shabat único e inolvidável, neste momento sagrado de reflexão, recordar não apenas as vestimentas do Cohen Gadol, mas também a riqueza de nossa própria tapeçaria cultural e espiritual como comunidade judaica. Assim como as pedras preciosas gravadas sobre o peitoral refletem a singularidade de cada um de nós, somos, de fato, uma constelação de histórias, tradições e esperanças. Que a luz desta reunião e a força das nossas memórias iluminem o caminho das próximas gerações, guiando-as com sabedoria e inspiração. Que possamos continuar a escrever capítulos significativos, com coragem e determinação, na história vibrante do nosso povo. Lembremos sempre: somos herdeiros de uma tradição magnífica, e cada um de nós é uma pedra preciosa, moldada pela experiência e destinada a brilhar no mosaico eterno do judaísmo.