Palavras do Rabino Pablo Berman

26 de julho de 2024

Parashat Pinchas, ou Mazal

Todos conhecemos a palavra "Mazal" em hebraico. Dizemos "Mazal Tov" em cada momento de alegria. Mazal Tov! No exato momento em que o noivo quebra a taça, todos desejamos à nova família que se forma: Mazal Tov!
O que é Mazal? Ter mazal é ter sorte. É algo que acontece sem que possamos influenciar, não depende de nós ter sorte. O Mazal está relacionado com o Galgal Hamazalot, com os 12 signos do zodíaco, que são chamados precisamente de mazalot. Os planetas e as estrelas, que de acordo com nosso dia de nascimento, terão influência em cada ato de nossas vidas. É assim? As estrelas e os planetas interferem em nossas vidas? 
Claro que não poderia ser de outro modo, temos várias opiniões rabínicas. O rabino Ioshua ben Levi não tem dúvidas, nossa sorte está relacionada com os astros e com o dia em que nascemos.
Não é assim, respondem os outros rabinos. Não é o dia, é a hora. Aquele que nasce de dia, nas horas em que o sol governa, será uma pessoa brilhante, comerá e beberá do seu próprio sustento, da sua própria capacidade, como o sol, que só transmite luz e energia. Não terá segredos, porque assim como a luz do sol revela o dia e nada fica oculto, assim também será essa pessoa.
Então, o que resta para nós que nascemos à noite? Oi vei. Meu Deus. Se nascemos nas horas do governo da lua, seremos seres que não comemos nem bebemos do que produzimos, que vivemos do que recebemos dos outros. A lua não tem luz própria. Depende do sol. Oculta suas fases, esconde-se. Possui segredos que é melhor não revelar. E uma vez por mês desaparece da vista de todos. Somos assim nós que nascemos à luz da lua?
Vocês nem imaginam o que os rabinos dizem de acordo com cada dia da semana em que nascemos. Uma sorte diferente para cada dia. E precisamos ter muita sorte para que nos toque um bom dia.
Mas deixemos esses aspectos ocultos para esta noite de Shabat. 
Por que estou falando de sorte? Porque Moisés tirou a sorte do povo de Israel. Fez um sorteio. Sorteio da terra. Seria a sorte que definiria qual pedaço de terra, da terra de Israel, caberia a cada tribo. O texto é claro, que apesar da sorte, as tribos maiores teriam mais terra, e as tribos menores, menos. O que é justo. Os intérpretes do texto não gostam que as coisas sejam decididas por sorteio. Isso não é bom. Há rabinos que não aceitam que há coisas na vida que dependem da sorte, e também, queridos amigos, do azar. Eles contam que Eleazar, o sacerdote, tinha palitos de madeira com os nomes das tribos e palitos de madeira com os lotes de terra atribuídos. Que ele tirava um palito de cada um, e dizia o que cabia a cada um, mas que não era sorte, que tudo era decisão divina.
Mas se o texto nos diz com todas as letras que era sorte, que não era providência divina. E se a sorte é providência divina? Será? Ou a sorte é... pura sorte. Vejam o que diz um rabino da Idade Média, Bachia: 
"Cada porção será atribuída por sorteio," isso é o que está escrito em Provérbios: "O sorteio põe fim às contendas e decide entre os poderosos." Se assumirmos que a outra pessoa adquiriu sua propriedade através do sorteio, ninguém pode ressentir-se, alegando injustiça por autoridade humana. Claro, Bachia tem razão, a sorte... é a sorte. O que toca, toca. E ninguém pode reclamar".
Mas nem todos gostam dessa versão um pouco aleatória da vida. Por isso Rav diz: "Ein mazal leIsrael," o povo de Israel não tem mazal, ou seja, não depende da sorte, está acima disso, está acima das estrelas e dos planetas. Quando Deus disse a Abraão que saísse de sua tenda para ver as estrelas, o texto diz que Deus "o tirou para fora," ou seja, o tirou de suas crenças, de acreditar nos astros e nas sortes, e que nada disso era para o povo de Israel.
Mas Rab Chanina diz o contrário, sim, há mazal, Iesh Mazal LeIsrael, para cada pessoa e que o planeta que governava o dia em que ela nasceu vai influenciar se essa pessoa será inteligente ou rica. E que isso também terá influência no povo de Israel, e que nada do que façamos, rezar ou tzedaká, poderá mudar nosso planeta da sorte.
Ai, Deus. Não é fácil isso de sorte ou azar. Em que acreditamos? Cada um de vocês deve saber no que acredita. Eu prefiro ficar com outra acepção da palavra sorte, que é mazal. Que pode provir da palavra hebraica Nozel, que significa fluir. As coisas vão acontecendo, simplesmente fluem, e como dizia o sábio Forrest Gump: "a vida é como uma caixa de bombons, nunca se sabe qual vai nos tocar".
Por mais que a gente saiba que todos são de chocolate e que a embalagem de cada um seja de cores diferentes, nunca sabemos ao certo qual é o recheio. Assim como cada momento da nossa vida, cada bombom é uma surpresa. E tudo deve simplesmente, fluir.