Palavras do Rabino Pablo Berman


Vayéchi
A porção de Vayéchi é como o último suspiro poético de Bereshit. Assim como a porção de Chaiêi-Sará, que fala da partida de Sara deste mundo, Vayéchi também se concentra menos na efervescência da vida e mais na melodia da despedida e da passagem. Mesmo que seu título nos convide a pensar na vida.
Os dias derradeiros de nosso patriarca Yaacov se aproximam, e ele, numa cena tocante, faz Iosef jurar que não o sepultará no solo egípcio, mas sim, na terra de seus antepassados, a Terra de Israel. Antes de sua derradeira jornada, Yaacov convoca todos os seus filhos para um último encontro, um adeus abençoado. Ele inicia seu ritual de bênçãos com os filhos de Iosef, Menashe e Efraim, transformando-os de netos em filhos, destinados a herdar a terra.
Yaacov também estende suas bênçãos a todos os seus filhos, numa espécie de recapitulação, assumindo o papel de líder e mensageiro, compartilhando mensagens, algumas carregadas de positividade, outras tingidas de realidade, sempre lançando um olhar adiante para as vidas que se desenrolarão como tribos na terra.
"E Yaacov concluiu suas instruções aos filhos, recolheu seus pés na cama, exalou e se juntou ao seu povo."
Iosef, igualmente, encerra sua jornada nesta porção, sugerindo uma redenção futura para o Egito, mas também assegurando o seu fim.
O relato da morte de Iosef e seu sepultamento no sarcófago egípcio não apenas conclui a trama da vida desse príncipe herdeiro hebreu, mas também sela o Livro de Gênesis, esse compêndio de relações entre pais e filhos. E, com um único passo além da última página, desdobra-se o próximo capítulo, Êxodo, o livro das ações das tribos, destinadas, ao longo dos quatro seguintes, a se solidificar em ações e conflitos de toda uma nação.
Este momento oferece uma pausa para reflexão sobre um livro que é, sem dúvida, o mais profundo e abrangente tratado já escrito sobre as relações mais complexas no mundo dos seres humanos: os vínculos de amor, ódio, compaixão, desprezo, anseio, maldade entre pais e filhos, no íntimo universo do homem e da mulher, e entre irmãos.
Adam e Eva. Caim e Abel. Noé e seus filhos. Abraham e Sara. Abraham e Lot. Isaac e Ishmael. Isaac e Rebeca. Yaacov e Esav. Yaacov, Rachel e Lea. Yaacov e seu sogro Laban. Iosef e seus irmãos. Yaacov e seus filhos. E, por fim, num gesto de redenção e consolo, a bênção de Yaacov sobre seus netos.
Na sua grandiosa bênção, Yaacov eleva seus netos, Menashe e Efraim, ao status de modelo de fraternidade: "Que Deus te faça como Efraim e como Menashe". Essa bênção não foi concedida sem razão. São os primeiros irmãos, desde o início da história humana, que não se odeiam nem alimentam inveja. Efraim e Menashe mais uma vez protagonizam a exceção como os primeiros irmãos, desde o início da história humana, que não se odeiam nem sentem inveja.
O Livro de Gênesis é o palco do desafio de ajustar a medida da fraternidade humana: Caim e Abel, Isaac e Ishmael, Yaacov e Esav, Iosef e seus irmãos. Iosef deu passos significativos na correção dessa fraternidade. Com seus filhos, obteve sucesso. No entanto, Yaacov parece repetir o "erro" com seus netos. Novamente, ele prefere o mais novo ao mais velho. Coloca a mão direita sobre a cabeça de Efraim, o caçula, e a esquerda sobre a cabeça de Menashe, o primogênito. Em sua ação, ele age quase como a profecia que foi pronunciada à sua mãe durante a gravidez: "Duas nações estão em teu ventre, dois povos procedem de tuas entranhas, um deles será mais forte que o outro, e o maior servirá ao menor".
Iosef tenta corrigir o "erro": "Não é assim, pai, porque este é o primogênito, coloca tua mão direita sobre sua cabeça". Jacó explica sua preferência: "Mas o menor será maior que o maior". Menashe, o primogênito, ouve esse julgamento incisivo e, no entanto, não abriga nenhum ressentimento em relação ao seu irmão mais novo, Efraim. Menashe aceitou sem problema, sem ciúmes, o que estava prestes a acontecer.
Assim, o Livro de Gênesis nos presenteia com uma rica tapeçaria de relações humanas, onde cada fio é entrelaçado com os desafios e triunfos de pais e filhos. À medida que Yaacov encerra sua jornada e Iosef completa seu ciclo, somos lembrados de que a vida é um eterno movimento, uma dança cósmica entre despedidas e recomeços.
Ao elevar Efraim e Menashe como ícones de uma fraternidade harmoniosa, Yaacov nos oferece a visão de um futuro onde os irmãos não se consomem em rivalidades, mas se erguem juntos, cada qual contribuindo com sua singularidade para o tecido colorido da vida.
A benção de Efraim e Menashe nos chama a refletir sobre nossas próprias vidas, onde cada segundo é uma dádiva preciosa. Assim como Yaacov e seus filhos, temos a oportunidade de tecer laços de amor e compreensão com nossos entes queridos.
A lição é clara: não esperemos despedidas para expressar nosso apreço e carinho. Abraçar a fraternidade e rejeitar rivalidades desnecessárias é a essência da verdadeira conexão humana. Cada um de nós pode ser como Efraim e Menashe, irmãos que se apoiam mutuamente, sem inveja, construindo um legado de harmonia.
