Palavras do Rabino Pablo Berman

10 de maio de 2024

Vamos pensar, Parashat Kedoshim

A Torá começa com as palavras "Kedoshim Tiihu, ki kadosh ani Adon-ai Elokeichem", encorajando o povo de Israel a buscar a santidade, pois Deus é Santo. Essa busca pela santidade não é meramente uma questão de nascimento ou herança; é um chamado à ação, à retidão moral e à consciência ética.
No entanto, ao olharmos para a realidade do mundo, encontramos situações que desafiam essa noção de santidade. Atualmente, somos confrontados com a tragédia que assola o Rio Grande do Sul, onde pessoas enfrentam adversidades e perdas inimagináveis. Em meio a essa dor, surge a questão: como podemos buscar a santidade diante de tal sofrimento?
Escreve o rabino e filósofo Ishaiau Leibobitz, o povo judeu não tem nada específico para ser Santo. Não somos santos porque nascemos judeus. Longe estamos de uma coisa assim. Se no texto da Torá Deus deve impelir a seu povo que deve ser santo, é porque alguma coisa vamos ter que fazer para poder chegar a esse nível. 
O conceito de ser santos levou dois grandes rabinos exegetas a debater em volta do conceito da santidade. Para Rashi é simplesmente afastar-nos dos relacionamentos proibidos e incestuosos, Gilui Araiot. Agora para Ramban, Nachmanides, sermos santos significa sermos simplesmente boas pessoas. Para Rashi pesa a Lei. Para Nachamanides pesa mais a essência do ser. Por isso Nachmanides chama isso com o nome de Nebel Bireshut hatora. Ou seja, uma pessoa que faz tudo o que está escrito na Torá, cada lei, cada letra. Ele faz tudo dentro do que chama ele, reshut hatora, o âmbito da Torá, mas na prática ele é um lixo de pessoa. Nachmanides conhece a lei e sabe muito bem que toda lei tem vazios, tem recintos escuros, tem traidores, tem mentirosos, tem os que furam a fila, e caminham de kipá. Por isso não é suficiente só com a lei ou só nascer judeu. Deus deve ainda nos exortar a sermos santos, a encontrarmos aquele caminho que possa nos transformar em pessoas do bem.
É neste momento que o conceito de santidade adquire uma profundidade ainda maior. Não se trata apenas de cumprir leis ou rituais, mas de responder ao chamado de Deus para sermos agentes de bondade e compaixão no mundo. Ser santo implica em agir com empatia, solidariedade e justiça, especialmente quando nossos irmãos e irmãs estão sofrendo. E isso fica comprovado quando vemos os milhares de pessoas ajudando, cada um com as suas possibilidades.
A criança pergunta para seu pai. Me explica por favor pai o que significa a consciência. O pai ficou pensando e pensando. Ficou movendo a cabeça. E finalmente responde para o filho. Vou te dar um exemplo. Um homem entra em nossa loja e pede para comprar uma camisa. Ele vai até o canto das camisas observa, experimenta uma camisa, duas, e escolhe uma. Ele se aproxima até mim e pergunta quanto custa essa camisa. E eu respondo: 100 reais.  Sem discutir ele tira do seu bolso uma nota de 100 reais e coloca sobre a mesa e sai da loja com sua camisa. Eu pego a nota para colocar na caixa e na hora que eu pego a nota, percebo que tem grudada uma outra nota de 100 reais. Então nessa hora querido filho acorda a consciência. Eu tenho ou não tenho que correr atrás do nosso amigo e contar para ele o que aconteceu. Agora você compreende?
Assim como o pai na história compartilhada, nossa consciência é despertada quando nos deparamos com a oportunidade de fazer o bem, mesmo diante das adversidades. A busca pela santidade não é um caminho fácil, mas é um compromisso constante em melhorar a nós mesmos e ao mundo ao nosso redor.
Portanto, ser chamado de "povo santo" não é um título de privilégio, mas sim um chamado para uma missão de serviço e responsabilidade. É através de nossas ações, especialmente nos momentos mais difíceis, que verdadeiramente nos aproximamos da santidade que Deus nos exorta a buscar.