Palavras do Rabino Pablo Berman

17 de novembro de 2023

Pensando Parasha Toldot, por que nos odeiam?

לקחת את ידי בידך ואמרת לי
בואי נרד אל הגן.
לקחת את ידי בידך ואמרת לי
דברים שרואים משם - לא רואים מכאן

ניגנת לי שיר על הגיטרה וקולך רעד
רוח בי קמה, רוח שרה, והזמן כאילו עמד
ואני עוד זוכרת כל טעם וריח
את חלקת השדה לאור הירח
קול התן מן הואדי וכובד הפרי בבוסתן,
דברים שרואים משם לא רואים מכאן.

הייתי לבדי ודרכי אבדה לי
ובאת, באת לי בזמן.
הייתי לבדי ודרכי אבדה לי
דברים שרואים משם לא רואים מכאן.

נתת לי יד, הראית לי דרך להרבה דברים
הבאת חיוך יפה כמו פרח וכח להאמין.
ואני עוד זוכרת את השיר ששרת
את החלק הטוב מכל מה שאמרת.
היי, מלאך ושטן, התשוב לעצור את הזמן
דברים שרואים משם לא רואים מכאן.
             

Você segurou a minha mão na tua mão e você diz: "Vamos para o jardim." Você segurou a minha mão na tua mão e você diz: "Coisas que se veem de lá - não se veem de cá."  

Você tocou uma canção na guitarra e tua voz tremou Um vento se levantou em mim, um vento que canta, e o tempo pareceu parar. E eu ainda me lembro de todos os sabores e cheiros, O campo à luz da lua. O som da fonte da primavera e o peso das frutas nos pomares, Coisas que se veem de lá - não se veem de cá.  

Eu estava sozinho e meu caminho estava perdido, E então, você veio você veio a mim a tempo. Coisas que se veem de lá - não se veem de cá. Dvarim she rohim mi sham lo rohim mi kan Iankele Rotblit escreveu essa letra maravilhosa, e um dos maiores músicos israelenses o grande Mati Caspi, musicalizou aquelas letras e cantou.

As coisas que se veem de lá - não se veem de cá.

Essa frase nos serve para pensar muito. A respeito do que nos está acontecendo no percurso dos últimos 40 dias, a partir do 7 de outubro que mudou muitas coisas, a vida de tantas famílias que mudaram para sempre de um modo dramático e aterrador, e ainda vai mudar mais, em outros aspectos de Israel e do povo judeu. As coisas que se veem de lá - não se veem de cá.

As coisas que se veem por fora do povo judeu (povo judeu como um todo, Israel e as Comunidades Judaicas no mundo, um povo unido e o mesmo destino para todos) são uma coisa, e como vemos as coisas ao interior de nosso povo é uma outra história, totalmente diferente, de como veem as coisas os que estão por fora do nosso povo. 

Escutava ontem na TV israelense a Avigdor Kahalani, ex-ministro de segurança de Israel e membro da Knesset. Ele diz: todos nos odeiam, não tem jeito. E não temos que ficar o tempo todo desculpando-nos das coisas. As coisas que devem ser feitas, têm que ser feitas, ponto final. Gostei.

Como povo judeu atravessamos todos os tipos, categorias, (não sei muito bem qual seria a palavra mais apropriada para expressar), de antissemitismo, de ódio a nós como judeus, que possamos imaginar. Para não ir muito longe na historia. Vamos pensar a partir do século IV, quando fomos culpados da morte de Jesus. A partir daí, começariam séculos de sofrimento, com as Cruzadas, a Inquisição, os libelos de sangue, (onde o povo judeu era acusado de matar crianças cristãs para fazer vinho para Pessach). Muitos séculos de ódio profundo, feroz dos papas e da Igreja Católica. Muitos séculos depois, com muitas histórias acontecendo tivemos os cossacos, pogroms Kishinev, então chegou a Shoá e o horror do nazismo. Praticamente metade do nosso povo foi apagado do planeta. E agora, já faz alguns anos, o ódio aterrador do terrorismo Islâmico, somado, (e isto sou responsável pelo que penso... ódio também dos islâmicos, que podem não ser terrorista, mas é um ódio apavorante que não lhes permite a determinadas lideranças islâmicas dizer e reconhecer que tem no meio deles, seres absolutamente psicopatas e assassinos).   

As coisas que se veem de lá - não se veem de cá. Itschak é abençoado por Deus. De fato, Deus diz para Itzchak, “Não desça ao Egito. Faça o que eu mandar. Habite aqui, e eu estarei com você e o abençoarei. Portanto, Itschak ficou em Gerar. Naquele ano, quando Itschak plantou lavouras, colheu cem vezes mais cereais do que havia semeado, pois Deus o abençoou. Itschak prosperou e se tornou rico e influente. Adquiriu tantos rebanhos de ovelhas e bois e tantos servos que os filisteus o invejaram. Por isso, os filisteus fecharam com terra todos os poços de Itschak, que tinham sido cavados pelos servos de seu pai, Abraham. Por fim, o Rei de Gerar (cidade filisteia) Abimelech ordenou que Itschak deixasse aquela terra. “Vá para outro lugar”, disse ele. “Você se tornou poderoso demais para nós.” Rico demais para nós.

A Torá desta semana, Parasha Toldot, já nos fala sobre antissemitismo, ou ódio a nós? Não acho, ainda. O próprio texto nos diz, inveja! E a inveja, é a fonte de muitos ódios, que século após século vão desenvolvendo em pensamentos cada vez mais terríveis, maquiavélicos e aterradores, e assim aconteceu. Importante esclarecer, não acho que a inveja seja a única causa da judeofobia, e do ódio a nós como povo através da história, mas está presente sempre.


Então Itschak partiu de onde estava e se estabeleceu em outras terras, onde armou suas tendas. Reabriu os poços que seu pai havia cavado e que os filisteus haviam fechado depois da morte de Abraham e lhes deu os mesmos nomes que Abraham tinha dado. Mas, alguma coisa aconteceu, que o Rei de Gerar Abimelech fica arrependido do que aconteceu, e vai pessoalmente buscar de novo Itschak.

Certo dia, o rei Abimelech veio de Gerar com Achuzat, seu conselheiro, e com Fichol, comandante do seu exército. “Por que vocês vieram? ”, perguntou Itschak. “É evidente que me odeiam, já que me expulsaram de sua terra.” Itschak com muita sabedoria questiona ao Rei dizendo, porque chegam agora, se já vocês me expulsaram. E agora que? O que vocês querem de mim?

O Rabino Isac Samuel Reggio, Italiano, do século 18, diz no seu comentário: “Quer dizer, se vocês gostam de mim, por que me enviaram de vocês, e se vocês me odeiam, como eu percebi até agora, por que vocês estão vindo até mim agora?” De algum modo, entende Reggio, e eu também, como se Itschak dissesse: o que vocês querem de mim? Por que não me deixam em paz. Já é suficiente. Vão longe daqui e vivam suas vidas. Esqueçam que existo. Não preciso de vocês para nada. E o Rei respondeu: “Podemos ver claramente que Deus está com você. Por isso, queremos fazer com você um acordo sob juramento, uma aliança. Então Itschak lhes preparou um banquete, e eles comeram e beberam juntos. Logo cedo, na manhã seguinte, cada um fez o juramento solene de não interferir com o outro. Itschak se despediu deles, e partiram em paz.

Quem sabe, talvez algum dia possamos conseguir isso. Senão uma paz completa, pelo menos sentar na mesma mesa uma vez, comer e beber juntos, mas na manhã seguinte, que cada um continue o seu caminho, e não interfira no outro. Por enquanto o mundo não está entendendo essa possibilidade, e continuamos tentando fazer alianças, que permitam a Israel e ao povo judeu nos países do mundo, levar em frente a jornada da vida, encontrando a serenidade em meio às adversidades, celebrar as pequenas alegrias e abraçar a busca por uma vida simples e plena. Que o amor pela vida nos guie sempre como Povo que somos, unidos no caminho de ser o Povo de Israel, permitindo-nos construir, juntos, o caminho para uma existência verdadeiramente normal, repleta de propósito e paz para todos nós."