Palavras do Rabino Pablo Berman

14 de julho de 2023

Pensando na Parasha Matot

  כל נדרי, כל מילותי
נשאתי אותם בכל משעולי
נשאתי אותם צרורים הם איתי
לך הוא הצרור אהבתי.

כל אשר אמרתי וכל אשר אומר
האהבה היא נדר, נדר שהופר
כל אשר אמרתי וכל אשר אומר
האהבה היא נדר, נדר שהופר.

כל נדרי כל תפילותי
כאבתי אותך בכל שבועותי
יצרתי מילים כתובות בתוכי
שבועת אמונים אהבתי.

Chaim Moshe interpreta essa linda música, que diz: "Todos os meus votos, todas as minhas palavras Eu os levei em todos os meus caminhos Eu os carreguei, eles estão comigo Para você vão os elos do meu amor. Tudo o que eu disse e tudo o que digo O amor é um voto, um voto quebrado, às vezes. Todos os meus compromissos, todas as minhas orações.  Eu te amei em todas as minhas promessas.  Criei palavras escritas dentro de mim O juramento da fé, meu amor.

Permaneço eu e todas as minhas promessas. Quantas promessas fazemos aos demais e não cumprimos? Quantas promessas fazemos a nós mesmos, e não cumprimos? Quantas coisas dissemos que vamos fazer, e o tempo vai passando e nunca fazemos?

A Torá não gosta de promessas. As detesta. Porque conhece o espírito humano, fraco, débil. Por isso tenta que a pessoa se afaste de prometer coisas. Desde as coisas mais simples, até as mais complexas. Melhor não prometer.

Porque se você promete, não se pode des-prometer, não tem volta. Não existe um modo de apagar o que você prometeu. Não me perguntem porque, mas, não existe. Existe um modo médio, estranho, de desatar, desamarrar o amarrado. Porque quando prometemos e não cumprimos a palavra, geramos um laço, uma união entre cada um de nós, a promessa prometida e o próximo. Ou, entre nós e a promessa prometida a nós mesmos, que parece ser, não pode ser desamarrada.

"Quando uma pessoa fizer um voto a Deus, não profanará a sua palavra, conforme tudo o que saiu da sua boca assim fará." Isso sim que é difícil. Tudo o que saiu da sua boca assim fará. Quem pode cumprir isso?

O texto da Tora é complexo e complicado. Com muitas variantes, tipos de promessas, de fazer e de não fazer. Imaginem que um tratado completo do Talmud, se chama Nedarim. Promessas. Imaginem se os rabinos tinham temas para debater ao respeito. Páginas e páginas. Votos, promessas, compromissos... Conclusão, talvez, seja melhor não prometer.

Mas, como seres humanos que somos, temos que prometer. Prometemos amor eterno quando formamos uma família. Prometemos ser honestos quando assumimos cargos públicos. Prometemos curar e salvar as vidas das pessoas quando pronunciamos o juramento de Hipócrates. Prometemos ser decentes em nossas profissões. Como seria possível viver uma vida sem promessas?

Lembram do mito grego de Casandra? Casandra era uma bela e nobre mulher. Ela pertencia à realeza troiana. Sua mãe era Hécuba e seu pai era Príamo, os reis de Troia. Mas ela não estava satisfeita em ser filha de reis. Ela queria algo mais. Ela desejava um dom. Por isso, ela pedia incessantemente ao deus Apolo que lhe concedesse um "poder": o dom da clarividência. Casandra era muito curiosa e ambiciosa, e queria ser capaz de ver o futuro para avisar a todos e ser venerada como "heroína" e "salvadora" Apolo ouviu suas súplicas, mas ele era tão volúvel que rapidamente se apaixonou por ela. Ele disse que lhe concederia o dom que ela desejava se ela concordasse em se casar com ele. E Casandra, para conseguir seu desejo, aceitou. No entanto, isso se mostrou um engano. Assim que conseguiu o poder que desejava, ela renegou seu amor por Apolo e jamais cumpriu a sua promessa. Enfurecido, Apolo decidiu puni-la. E o que ele fez? Como ele não podia desfazer o dom que lhe havia dado, ele lançou uma maldição sobre ela: Você poderá ver o futuro, mas nunca poderá evitar o que está destinado a acontecer, porque ninguém jamais acreditará em você.

Ninguém jamais acreditará em você. Aqui reside a dificuldade das promessas, dos compromissos assumidos e não respeitados. Algum dia, ninguém acreditará em nossa palavra, na sua palavra. E o instrumento mais caro da história da humanidade, mais apreciado, o tesouro mais procurado, é, foi e será a palavra.