Palavras do Rabino Pablo Berman


Pensando: Chaiei Sara, Nomes e Rostos
נוסע על כביש מהיר
מגע החורף שבאויר
ובחלון שלי הנוף חולף מולי
או שאני חולף מולו
כל שיר חושף איזה סוד
מותח עוד גשר לחצות
הוא מכוון כליו, אני דרוך אליו,
רוצה לדעת את כולו
ואז עוברים בי שלב שלב
מי שהייתי מי שעכשיו
כל הפנים והשמות כולם
כל השירים שהם לקחו איתם
ואז אימי מרחוק
והד קולות רחוקים של צחוק
ריחות של יום שבת, אבי מרים מבט
ושתי עיניים עייפות
ובחצר של ביתי
ירוק טהור כמו בילדותי
השער הגדול, וחריקת החול
ושתי רגלי היחפות
O cantor israelense Dani Robas, escreve essa poesia:
Viajando velozmente pela estrada,
O sopro do inverno dança no ar,
E pela janela, a paisagem desfila ante mim,
Ou será que eu deslizo por ela?
Cada canção desvenda algum segredo,
Estende mais uma ponte a atravessar,
Ela sintoniza meus sentidos, me inclino para ela,
Ansiando desvendar todos os seus segredos.
Então, desfilam por mim estágios,
Quem eu era, quem sou agora,
Todos os rostos e nomes se entrelaçam,
Todas as músicas que levaram consigo.
E lá, ao longe, minha mãe,
Ecos de risos distantes,
Aromas de sábados, meu pai ergue o olhar,
E dois olhos cansados.
No quintal do meu lar,
Verde puro, como na infância,
O grande portão, a dança da areia,
E os pés descalços, livres e leves.
Panim ve Shemot, rostos e nomes. São aqueles que estão na porta da nossa Sinagoga. Eles não entram aqui, porque não estão presentes. Estão com vida, temos a esperança. Mas eles não podem entrar.
Às vezes penso que sofremos só quando nos toca. Quando de algum modo mexe conosco. Não sofremos, senão quando chega nossa vez, quando alguém dos mais próximos a nós, nos falta, some das nossas mãos, do nosso lado. Por isso é preciso ver os Rostos e os nomes. É preciso ter na frente das nossas narinas o que está acontecendo com nossos irmãos e irmãs em Israel. Quatro paredes, como aquela com a qual vocês foram recebidos hoje na porta da nossa Sinagoga, são as pessoas que agora estão em algum lugar do inferno de Gaza.
Tivesse gostado de colocar os Rostos e os Nomes na entrada da nossa comunidade para que muitas pessoas, adultos e jovens que nos visitam diariamente, e claro, cada um de nós também, pudéssemos estar cientes a cada dia do que está acontecendo, lembrar-se deles. Mas tem fatos que é melhor ocultar. Se ocultarmos os fatos, os fatos não estão acontecendo. E se acontecem, pois é, acontecem longe. Não aqui. Não comigo. Por isso, quando chega a sua vez, chega a sua vez. Aí você entende. Aí você compreende a magnitude da tristeza. Das ausências. Dos silêncios. Dos quartos vazios. Da cama que não está bagunçada. Porque ninguém dormiu nela.
Panim ve Shemot. Os Rostos e os Nomes. E todas as músicas que levaram consigo.
35 dias e noites que eles estão aí, naquele inferno, os chaialim estão por perto, chamando eles através dos megafones. Para nós, a vida continua. Continuamos vivendo o dia a dia. Os primeiros dias estávamos pendentes 24 horas. Com o passar dos dias, 35 dias, a vida deve continuar. Eles não conseguem. As famílias de cada ser humano, que está lá, na porta da Sinagoga, não conseguem continuar com a vida. A vida parou há 35 dias. Nós dormimos tranquilos em nossas camas. E pensamos já, o que vamos fazer nas férias. Ou no próximo feriado de 15 de novembro.
Panim ve Shemot. Rostos e Nomes.
Nitzan e Dede, dois artistas israelenses das ruas, com obras maravilhosas, (podem pesquisar), tiveram a ideia de criar as fotografias e os textos que estão na porta da Sinagoga. Porque cada pessoa tem um nome e um rosto. Tem uma família e tem uma história. E não só as fotos com os textos que agora percorrem as cidades do mundo todo. Não só nas comunidades judaicas. Senão, nas ruas, para conscientizar as pessoas que caminham pelas ruas do mundo. Muitas das quais preferem tirar com raiva as fotografias. Por que nos odeiam? Por que são antissemitas? Por que preferem tirar e ocultar, para dizer que isso não esta acontecendo? Porque talvez seja mais uma mentira dos judeus sionistas. Quem sabe... tudo é possível. O ódio antissemita sempre acorda, vai se transmutando, vai mascarando-se com diferentes máscaras, mas devemos saber que sempre está por perto.
Mas, a Torá, e os textos judaicos não transmutam. Nem se vestem de máscaras. Talvez ocultam alguns mistérios, mas sempre são um oásis de calma e fortaleza.
Abraham, o patriarca, envia o seu servidor, Eliezer, na difícil missão de achar uma mulher para Itzchak. Antes de partir, junto a uma caravana de 10 camelos e um grupo importante de pessoas acompanhando, Abraham diz para Eliezer:
"O Eterno Deus do Céu, que me tirou da casa de meu pai, da terra em que nasci, que falou comigo e me prometeu, dizendo: Aos seus descendentes eu darei esta terra, enviará um emissário divino (um malach) diante de você, e de lá você tomará uma esposa para meu filho".
E o rabino Ovadia Seforno, que viveu na Itália no século XV, acrescenta as seguintes palavras sobre esse trecho:
"Que seja a vontade de Deus, que Ele envie Seu anjo das regiões celestiais. Visto que foi Ele quem me tirou de lá, e que possamos ser cientes que todos os eventos estão sob sua supervisão constante."
"Não tenha medo, Deus está no controle", como se costuma dizer em português, não é? O povo de Israel não tem medo. Deus está no controle, e também Tzahal está no controle, os jovens do exército de Israel que dão as suas vidas pela Terra de Israel, por seus habitantes e por cada um de nós que não moramos lá.
Kol Hapanim veha Shemot. Todos os Rostos e os Nomes. Kol Hashirim she el lakchu itam. E todas as músicas que levaram consigo.
Que voltem logo aos seus lares, em segurança e com vida.
